quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

# 32

A extensa brancura do muro pareceu-lhe apoucada para acolher a desmesura da mensagem que queria dar ao mundo. Mas a nova era urgente e primordial. Na vida o tempo chega sempre; no Amor há tempos que não chegam a ter tempo. Escreveu-a num afã enquanto a madrugada fechava a noite como se fosse um canivete. Olhou-se na sua própria proclamação e percebeu por que errar só é humano para os que amam. Foi atrás do sol e deixou a sombra a aguardar paciente que um outro e mais outro e outro mais olhar acendessem sóis por todo o lado.
Ao passar o fotógrafo contemplou e pasmou. No pestanejar da manhã viu que faltava ali um toque vivo à monotonia do manifesto. Ao longe chega-se alguém pelo trilho do quotidiano sem reparar na verticalidade de cada letra que lhe acompanha os passos. É agora pensou cruciforme o retratista. E enfiou a imagem pelo furo do diafragma. Depois olhou já com outros olhos. A mulherinha africana caminhava sobre um aparente alheio acuidada à conversa no telemóvel. Só amor tem assim conversa tão abstraída pensou expectante. Certamente afago ao longe, sabe lá, e até quem sabe?, alguém  com outro tom ou com outro som foi achando graça pulando entreas acometidas figurações. É que ...
() o amor é impoortantƏ, porra!!

4 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Este deve ser alentejano.
Conhece a declaração de amor alentejana?
Que acaba com "Gosto de ti, porra! amo-te cumó caraças!!"

jorge esteves disse...

Como é óbvio, não sei quem foi o autor de tão eloquente manifesto. Será alentejano, ou não, e o verbo lhe tenha parecido mais sonoro usando o linguajar caracteristico do Alentejo.
Mas a fotografia, essa, foi tirada em... Aveiro!
Agradeço e cumprimento a todos.
...
E mandem as vossas imagens!

jorge

Manuel Veiga disse...

um "Porra" que estilhaça todos os muros!

abraço, Jorge.

um prazer descobrir este novo espaço!

Olinda Melo disse...


E esta, hein?!
E não é que é mesmo importante?

Abraço

Olinda